Edição do dia 09/06/2016
09/06/2016 21h09 - Atualizado em 09/06/2016 21h09
PF indicia oito pessoas e três empresas por tragédia em Mariana
Inquérito apura crimes ambientais causados por rompimento de barragem.
Tragédia que aconteceu em novembro de 2015 matou 19 pessoas.
A Polícia Federal indiciou oito pessoas e três empresas no inquérito que apura os crimes ambientais provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas, sete meses atrás.
São mais de dez mil páginas com uma sequência de denúncias. A conclusão é que a Samarco estava alteando, ou seja, aumentando a capacidade da barragem de Fundão, numa velocidade maior que o dobro do previsto no manual de operação da empresa.
A barragem estava sem responsável técnico. Instrumentos que mediam a estabilidade quebraram ou eram insuficientes. A mineradora aumentou a produção, mas reduziu o valor investido no monitoramento. A Vale, que é uma das donas da Samarco, era responsável por 27% da lama depositada em Fundão, o que aumentou o risco.
A Samarco ainda mudou o traçado da barragem. Em maio de 2013, o traçado era uma linha reta. Um ano depois, a linha foi ganhando a forma de \"s\". Testemunhas confirmaram que o rompimento começou nessa área. A lama destruiu vilarejos, atingiu o Rio Doce e chegou ao mar.
Oito pessoas foram indiciadas, entre elas um gerente da Vale, diretores da Samarco e o presidente da mineradora na época em que a barragem de Fundão se rompeu, Ricardo Vescovi. Três empresas também foram indiciadas: a VogBR, que emitiu o laudo atestando que a barragem era estável, a Vale e a Samarco.
A acusação é por crimes ambientais e contra o patrimônio histórico, já que construções do século 18 também foram destruídas.
“A sequência de problemas e de atitudes que foram tomadas que mostram um risco que foi assumido pela Samarco”, diz o delegado da Polícia Federal, Roger Lima de Moura.
E a Justiça mineira aceitou novas denúncias do Ministério Público Estadual contra a Samarco. Há indícios de fraudes e adulterações de informações no processo de licenciamento ambiental da barragem de Fundão e nas obras do recuo de eixo.
“Eles fizeram sem autorização legal nenhuma, aumentaram o risco da barragem, trouxeram uma situação de fragilidade e ocultaram essa informação do órgão ambiental competente. Intencionalmente omitido pela Samarco, o que impossibilitou, dificultou muito a fiscalização pelos órgãos competentes”, explica o promotor do Ministério Público Mauro Ellovitch.
A Samarco afirmou que não foi notificada das denúncias do Ministério Público. Sobre o inquérito da PF, a empresa declarou que sempre operou com altos padrões de segurança e que mantém todos os seus monitoramentos em linha com as exigências legais e com as melhores práticas internacionais de mineração.
A Vale repudiou com veemência o indiciamento de um funcionário - e alega que ele jamais teve responsabilidade pela gestão da barragem. A Vale reafirmou que só depositou 5%, em média, de rejeitos.
Nós não conseguimos contato com os representantes da VogBR.